HISTORIA DA RUA CARIJOS
Rua Carijos
Texto Escrito por Yolanda de Carvalho Silveira.
Em meio a tantas lembranças é interessante observar, quando recordamos os tempos passados, quantas mudanças ocorreram no modo de vida, nos costumes, na cidade, enfim em tudo. Era tranqüilo viver naquele tempo. Não havia assalto e nem esse transito maluco que é hoje. A vida na Fazenda Retiro Sagrado Coração de Jesus era muito alegre e saudável. Assim também era nossa vida na casa da Dindinha Rita no centro da cidade. Brincávamos eu, minhas primas e as meninas das casas vizinhas, na rua, atravessávamos a Praça Sete sem nenhuma preocupação, para comprar pão, doce e biscoitos na padaria “Sete de Setembro” que existia num prédio pequeno onde depois foi construído o prédio do Cine Brasil.
Onde estão hoje, os Bairros da Graça, Cidade Nova, Silveira, Vila Silveira, e parte do Bairro Sagrada Família era o Retiro Sagrado Coração de Jesus. Tinha uma casa de construção antiga, mas muito querida por nós que lá nascemos. Lá também residiram meus avós, Dindinha Rita e Cândido Lúcio da Silveira, logo após terem a Fazenda do Leitão desapropriada para a construção da nova Capital de Minas Gerais, Belo Horizonte.
Um belo dia, Dindinha Rita resolveu mudar-se para o Centro da Capital. Muito precavida e preocupada com os netos que moravam em fazendas, longe dos estabelecimentos escolares, Dindinha Rita queria dar condições para que eles tivessem onde ficar durante a semana e assim poder estudar. Ela usou desta situação para convencer Vovô Candido e justificar a mudança. Possuiam uma casa, bem ampla, com ótimo pomar, na Rua dos Carijós, 559 e lá fixaram a nova residência. Ficava localizada no quarteirão entre as Ruas Curitiba e São Paulo, onde hoje tem um prédio com uma loja da Sapataria Elmo. O bonde Floresta passava pela Rua Carijós e o ponto de parada era bem em frente da casa.
Quando completávamos oito anos, íamos morar no Centro, nós, isto é, eu, minhas irmãs e as outras primas que também moravam fora. Não havia ônibus e o único meio de transporte de pessoas eram os bondes, charretes e cavalos. Para o transporte de cargas haviam também os carros de boi, que papai usava para trazer lenha do Retiro e vender no centro da cidade, pois as casas não tinham fogões elétricos ou a gás como hoje. No trajeto entre o Retiro e o centro da cidade, iamos a pé, e naquele tempo a estrada era estreita e sem calçamento, só mais tarde, na década de 30, papai mandou alargar e cascalhar a estrada, foi quando resolveu comprar um carro. Então o trajeto era assim: saiamos a pé pela estradinha precária, de terra, dentro do Retiro até a Rua Jacuí e parávamos na casa de Dª Emilia, uma costureira amiga que morava na Rua Jacuí, nas imediações do Grupo Escolar Flávio dos Santos, que não existia na época. Lá descansávamos um pouco e algumas mais vaidosas trocavam os sapatos da “roça” pelos da “cidade”. Daí, seguiamos a pé pela Jacuí, passávamos pelo Colégio Santa Maria, e continuávamos pela Jacuí até a praça da Estação, onde subíamos a Av. Amazonas até a Praça Sete de Setembro e daí Rua Carijós. Quando vínhamos de bonde o trajeto era outro, a partir do Colégio Santa Maria, onde tomávamos o bonde “Floresta” que seguia pela Pouso Alegre, virava na Rua Curvelo, depois seguia pela Av. do Contorno, atravessava a praça da Estação, subia a Caetés, virava na Av. Paraná e subia a Carijós até a Praça Sete de Setembro. Eu era tão pequena que para dar o sinal para parar tinha que subir no banco dos bondes para alcançar a cordinha. Nesta época ainda não existia o viaduto da Floresta. Menina de oito anos, eu era acompanhada por Orlando, ou outro empregado que papai mandava, apenas entre o Retiro e a casa de Dª Emilia, o restante do caminho fazia sozinha ou com minhas irmãs.
Estudamos no Grupo Cezario Alvim, que ficava na esquina das ruas Guarani e Tupinambás, sendo que eu e Orlando fomos para o Grupo Olegário Maciel, inaugurado quando eu cursava o segundo ano, e que está localizado, até hoje, na Avenida Olegário Maciel esquina de Carijós. A inauguração do novo estabelecimento foi de muita festa. Os alunos, tendo à frente a diretora, Dª Vitália Campos, saímos do prédio do Cezario Alvim e fomos em direção ao novo prédio, todos em fila, acompanhando uma banda de música e cantando o Hino Nacional, arrancando aplausos das pessoas que estavam nas calçadas.
Orlando não morou em casa de nossa avó. Ele vinha todo dia até a Rua Carijós, montado um cavalo bem pequeno chamado Mimoso, onde o deixava em uma grande coberta e ia para a aula, voltando de tarde para o Retiro.
Colaboração: Tia Yolanda Carvalho Silveira 10/03/2004